A História da nossa Associação
No século XIX, apesar das convulsões políticas, económicas e sociais, registou-se um aumento demográfico da mortalidade, à melhoria da alimentação, aos avanços da medicina e ao desenvolvimento dos hábitos de higiene.
Em Guimarães notou-se o melhoramento das condições de vida, que esteve patente no impacto da Exposição Comercial e Industrial de 1884, na criação da Escola Industrial e no dinamismo cultural do concelho. Para além disso registou-se um grande desenvolvimento a nível urbano: abriram-se novas avenidas, criou-se o jardim público e tentou-se melhorar e higienizar a cidade, como já estava preconizado no Plano de Melhoramentos do Eng. Almeida Ribeiro. Em 1884, o comboio chegou à cidade e abriram-se, posteriormente, estradas de ligação a outros concelhos. Mas, simultaneamente, este desenvolvimento e progresso tanto comercial e industrial conduziu a um aumento da mão-de-obra e ao aparecimento de uma classe operária, que foi sobrevivendo com muitas dificuldades, pois o trabalho nas fábricas era muito duro e os horários descomedidos. A sua alimentação era deficiente e as habitações degradantes, o que levou ao desenvolvimento de doenças como a tuberculose, a pneumonia, ou o raquitismo. Consequentemente alastraram os problemas sociais, como o alcoolismo, delinquência, prostituição e mendicidade. Como nos diz A.L. de Carvalho, «o operariado, abandonado a si próprio, anda há vinte anos deambulando aos ventos de correntes e sugestões as mais estranhas, ora pelos círculos e juventudes católicas, ora pelos grémios socialistas e sindicatos revolucionários – alfabetizado, deseducado, enganado!».
Enquanto isso a burguesia enriquecia, o que levou ao aparecimento de um sentimento de revolta e de agitação social, que conduziu a frequentes reivindicações por melhores condições de trabalho e aumento de salários. Para além disso, a situação política portuguesa era “efervescente”, conduzindo à decadência da monarquia e ao avanço dos republicanos. Esta situação culminou em 1908, com o assassinato do rei D. Carlos e do príncipe Luís Filipe, que teve como consequência a demissão de João Franco e a nomeação de um governo de coligação.
Perante estes acontecimentos, verificou-se o sucesso das ideias liberais que trouxeram uma nova forma de auxílio social, em que teve particular destaque a criação de mutualidades. Tratava-se de associações de solidariedade social, com cariz laico,criadas com o objectivo de ajudarem os seus membros a protegerem-se mutuamente na adversidade (doença, morte ou situações de dificuldade), através da entreajuda. Procuravam apoiar os operários que se encontravam muito desamparados, tratando do funeral e concedendo um subsídio de luto, obtido através da acumulação das quotas mensais dos sócios. De inicio bastante incipientes, estas associações foram-se fortalecendo, tornando-se a base de um sistema de auxílio mútuo, numa época em que as antigas confrarias e irmandades religiosas estavam já em decadência.
A partir da segunda metade do século XIX começaram a aparecer em Guimarães algumas Associações de Socorros Mútuos – tendo-se destacado a Associação de Socorros Mútuos Artística Vimaranense em 1869 -, mas estas não conseguiram colmatar todas as necessidades dos trabalhadores. A sua situação não melhorou e por isso continuaram a reclamar por melhores condições de vida. Então, em 19 de Julho de 1908, um grupo de operários decidiu criar uma Associação de Solidariedade Social, laica, que os amparasse, principalmente na morte. Em Guimarães havia uma grande carência deste género de auxílio, pois não existia ainda uma instituição de solidariedade que o prestasse. Na reunião de Direcção de 15 de Outubro de 1911, «o Presidente da mesa Sr. António Luís da Silva Dantas fez ver à assembleia quanto é necessária e útil esta associação para evitar que qualquer chefe de família ande de porta em porta mendigando o óbolo de caridade para custear as despesas do funeral de qualquer pessoa de família» regista a acta da Direcção nº 22.
Os líderes e fundadores da Associação Fúnebre Familiar Operaria Vimaranense foram Martim Augusto de Passos, Domingos Bráz Teixeira e João Fernandes de Macedo, três operários vimaranenses que assumiram a criação da nova instituição, em 19 de Julho de 1908. Os seus membros foram convocados através da distribuição de pequenos convites e reuniram-se em Assembleia-geral, no dia 26 de Julho de 1908, nas instalações da associação de classe dos operários fabricantes de calçado, a fim de divulgar a instituição. A presidência coube a Martim Augusto de Passos, sendo-lhe dados poderes para nomear uma comissão encarregada de tratar dos assuntos da associação. Foram seus secretários João Fernandes de Macedo e Domingos Bráz Teixeira, sendo estes os seus iniciadores e administradores até 1909, altura em que foi eleita a Direcção para o ano de 1909-1910.
A comissão instaladora começou por criar as suas próprias insígnias e, por isso, na reunião de 9 de Maio de 1909, Domingos Bráz Teixeira propôs que fosse feita uma bandeira “cor de garrafa”, com as iniciais em branco para se colocar a meia haste ou a traçada sobre os caixões. Na reunião seguinte, em 24 de Outubro Gaspar Machado propôs que se comprasse uma imagem de Cristo para se colocar junto da cabeceira dos sócios falecidos. Paralelamente a esta proposta, António José de Faria lembrou que era necessário adquirir um Menino Jesus para colocar a velar pelos “anjinhos”, uma vez que a mortalidade infantil que se registava na época era elevadíssima e atingia todas as classes sociais.
Entretanto tornou-se necessário redigir os estatutos da nova instituição, com a finalidade de munir a associação de um conjunto de regras que facilitassem a sua gestão e funcionamento. Por isso, em 27 de Março de 1910, José António da Costa nomeou Domingos Brás Teixeira para presidir à comissão encarregada de elaborar os estatutos da Associação. Estes foram aprovados nos Paços do Concelho da República, em 11 de Janeiro de 1913, sendo assinados por António Maria da Silva.
Para uma eficaz gestão e transparência da instituição, tornava-se necessário apresentar as contas e o relatório da gerência aos sócios. Por isso, o jornal Alvorada, dirigido por A.L. de Carvalho, publicava no seu número 19 e repetia no 20, de dias 1 e 8 de Abril de 1911, um convide da Associação Fúnebre Familiar Vimaranense, para que no dia 16 de Abril, pelas 9 horas da manha, os sócios comparecessem na sede da sua Associação, na rua Vila Flor, para discutirem e aprovarem o balancete do 1º trimestre de 1911, em Assembleia-geral ordinária.
No final do mês, em 29 de Abril de 1911, o mesmo jornal publicou um aviso, convidando os sócios a reunirem-se em Assembleia-geral extraordinária, no dia 30 de Abril, para nomearem um cobrador e um primeiro secretário. Notava-se o dinamismo e a vontade de trabalhar dos quatrocentos sócios fundadores da Associação Fúnebre, a fim de trabalharem e cooperarem lutando pelo avanço da colectividade. Até aí era praticamente uma associação de classe, pois principiou contando com um grande apoio da Associação da classe dos sapateiros, mas em 1915 refere-se na acta nº 47, de 13 de Setembro de 1914, que não era conveniente que permanecesse junto de uma associação de classe «Porque de forma alguma convém a esta associação estar junta com as associações de classe porque acaso sempre, dentro delas os seus membros fazem politica o que prejudica associações desta natureza, aonde se encontram sócios de todas as classes».
O protocolo e os costumes iam-se lentamente organizando e consolidando na estrutura da Associação e lentamente a sua especificidade ia-se moldando. Manuel Mendes da Silva, em 17 de Julho de 1910, propôs que se celebrasse uma missa todos osanos. Com o avançar do tempo tornou-se necessário remodelar os estatutos e por isso, em 1915 fizeram-se novos estatutos, que foram aprovados pelo governo da República em 23 de Outubro de 1921, tendo sido assinados por Bernardino Machado e Manuel Monteiro, ambos republicanos do distrito de Braga.
Após a Primeira Guerra Mundial deu-se uma grave crise económica e social, que originou um enorme desemprego e grandes quedas na produção industrial. Alem disso, o custo de vida aumentou e o abastecimento de géneros começou a escassear, o que conduziu a fortes reacções sociais. Perante esta situação a Associação deliberou na Assembleia-geral de 10 de Março de 1921, lançar vales de 5 centavos, habitualmente conhecidos como a cédulas, isto é, tratava-se de pequenos documentos de papel impresso, que representavam pequenas quantias de dinheiro. Por isso, também era designado como “dinheiro de trocos”, “dinheiro de necessidades” ou ainda “dinheiro de emergência”, por ser apenas usado em situações de crise e escassez de metal. Geralmente também podia ser convertido em metais pobres, como o bronze ou o cobre, mas como depois da Primeira Guerra Mundial se registou uma grande falta destes metais devido ao seu enorme consumo durante a guerra, isso levou a que essas moedas fossem açambarcadas ou utilizadas na produção industrial e desaparecessem de circulação. Por isso, tal como a Associação Fúnebre, muitas outras instituições criaram as cédulas como forma de remediar essa situação.
A associação foi-se tentando equilibrar e prosseguir a sua missão humanitária, melhorando toda actividade em prol das necessidades dos sócios. Em Abril de 1930 já a secção Funerária da Associação estava instalada na Travessa do Priorado. Foi nessa altura que se adquiriu uma carreta para transportar os defuntos até ao cemitério de Atouguia. A carreta funcionou até 31 de Julho de 1977, data a parte da qual começou a funcionar um carro funerário, que esteve ao serviço até 24 de Janeiro 1987.
Em 1931 foi publicado o decreto-lei nº 19281, de 29 de Janeiro, que reformou os Estatutos das Associações de Socorros Mútuos tentando organizar as referidas instituições. Regulava as inspecções, impunha penas e incitava-as a cumprir determinadas regras, como seja, a uma aprovação prévia dos seus estatutos pelo Governo, e para além de outras informações, recomendava as quotas e subsídios a atribuir aos sócios.
Esta tentativa de organização teve ainda continuidade com o Decreto n.º 20944, de 27 de Fevereiro de 1932 (SANTOS, s/d). Pretendia regular e alargar o âmbito das Associações Mutualistas, isto é, das «organizações do tipo associativo que sistematizam, institucionalmente – de forma mútua, num processo de entreajuda -, a protecção social das pessoas (ou grupos) que as integram».
Entretanto, a associação teve uma vez mais necessidade de actualizar os estatutos, que foram aprovados em Assembleia-geral de 22 de Dezembro de 1931.
A colectividade foi cumprindo os seus objectivos e por isso, foi-se impondo como uma das mais necessárias e pretendidas pela população de Guimarães e, como consequência, a par da ajuda aos mais necessitados, recebia também donativos e serviços por parte de alguns benfeitores. Uma destas doações foi feita pelo Conde e Condessa de Margaride, que em 15 de Maio de 1933 ofertaram a quantia de 200$00, considerada na época uma pequena fortuna.
Como todas as associações, a sede era o local onde os sócios se reuniam a fim de tratarem dos assuntos comuns, onde guardavam o seu património e realizavam o seu trabalho de solidariedade. Por isso, a necessidade de possuir um edifício próprio era uma das suas principais preocupações. Considerava-se necessário arranjar um espaço que não fosse dispendioso, mas onde se pudesse fazer uma construção com as condições adequadas às funções da associação e com uma área suficientemente ampla para receber as Assembleias-gerais de sócios. Foi por intermédio do médico da Associação, Dr. Alberto Rodrigues Milhão, membro da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, que em Julho de 1933, pelo Decreto-lei n.º 22695, publicado no Diário do Governo de 17 de Junho de 1933, o Governo cedeu gratuitamente 308 m2 de terreno de cerca anexa ao extinto Convento de Santa Clara, à Associação Familiar, a título precário e gratuito. O Auto de Posse foi celebrado na Câmara Municipal, em 30 de Junho de 1933. O Dr. Rodrigues Milhão ofereceu ainda a planta do edifício, sendo a obra dirigida por António Luís Bastos Pina.
Como agradecimento aos beneméritos, a Associação Fúnebre Familiar Vimaranense decidiu, em Julho de 1933, nomear sócios honorários Rodrigo Augusto de Graça Alves, autor dos Estatutos e Regulamento, Manuel Simões Bernardes, que ofereceu uma estante envidraçada e o Dr. Henrique Cardoso Martins Menezes, Conde de Margaride. António Joaquim de Sousa foi considerado protector da Associação.
Mas os dias de luto estavam para vir. Em 7 de Fevereiro de 1934 a Direcção reuniu na sede na rua da Rainha, n.º 142, 2º andar, em sessão extraordinária e foi-lhe comunicado o falecimento do Presidente da Direcção Sr. José Carneiro, o que levou a uma profunda consternação por parte dos elementos da Associação, que o choram piedosamente.
Pretendia-se continuar a obra de benemerência e, paralelamente, persistir no fortalecimento da Associação. Com esse objectivo estava previsto nesse mesmo ano realizar-se um desafio de futebol destinado a obter fundos para ajudar a custear a construção da sede, mas nem todos os membros estavam de acordo. Por isso, a Direcção da Associação decidiu não organizar o referido desafio por construção da sede, mas nem todos estavam de acordo. Por isso, a Direcção da Associação decidiu não organizar o referido desafio por considerar o bairrismo da Direcção do Vitoria Sport Club muito exagerado. Apesar do sucedido, a construção do novo edifício da Associação iniciou-se junto à rua de Rua de Serpa Pinto. Tratava-se de ergue um edifício robusto, feito em granito, com as armas da associação adossadas à empena. As obras decorreram em bom ritmo, e pouco tempo depois a escadaria principal da nova sede foi adjudicada ao mestre pedreiro António Ribeiro, por 200$00.
Guimarães é uma cidade de grandes tradições e de personalidades notáveis. A partir do século XIX tem procurado homenagear os seus filhos ilustres através das mais diversas manifestações. Como instituição da cidade, também a Associação participava activamente nos grandes acontecimentos vimaranenses, e por isso, em 2 de Junho de 1935 esteve representada na inauguração do monumento ao gravador Molarinho, organizada pela Sociedade de Defesa e Propaganda de Guimarães, cujo Presidente era A.L. de Carvalho. O monumento, em granito, era decorado com um medalhão central de bronze, da autoria do escultor Teixeira Lopes e ficou colocado no centro do Largo Condessa do Juncal, sendo mais mais tarde ligeiramente afastado para o lado norte, para não estragar a amplitude do largo.
Entretanto, a sede localizada na antiga cerca das clarissas, junto à rua Serpa Pinto, quase no local onde outrora existiu o ateliê do pintor vimaranense Abel Cardoso, foi terminada e decidiu-se inaugurá-la com solenidade. Esteve aberta ao público de tarde e à noite, profusamente iluminada, a rua foi ornamentada com arcos e os sócios comparecem em grande número.
O programa de festejos realizados em 19 de Julho de 1935 foi o seguinte:
- 8h30 – A Banda dos Bombeiros Voluntários de Vizela percorreu a cidade.
- 9h00 – Organização do cortejo na sede social para a igreja de S. Francisco onde foi celebrada missa pela alma de associados falecidos e feita uma romagem ao cemitério.
- 11h00 – Sessão Solene no Salão, presidida pelo Delegado do Instituto Nacional do Trabalho e Previdência Social do distrito de Braga.
O edifício sede foi finalmente inaugurado em 28 de Julho de 1935, quase três décadas depois da criação da Associação, mas esta mantinha ainda inalterável o seu objectivo inicial de auxiliar os sócios prestando-lhes um bom serviço funerário.
Entretanto, esta zona outrora pertencente à cerca do convento de Santa Clara e junto da rua de Serpa Pinto tornou-se um espaço cobiçado. Por isso, quando em finais de 1936 chegou ao conhecimento da Direcção que fora concedida licença para a construção de um “barracão” para exibição de cinema no terreno junto à sede, deixando entre os dois edifícios um espaço livre onde se concentrariam sujidades e dejectos, a Direcção decidiu fazer uma petição à Câmara, assinada pelo secretário, José Gualdino de Freitas, solicitando a transferência do edifício a que habitualmente chamavam “barraco”, para outro lugar, o que conseguir obter um parecer favorável da Câmara. Alguns anos mais tarde, em 1941, a Direcção solicitou à Câmara Municipal a cedência gratuita do terreno anexo à sede social, o que lhe foi concedido.
Os sócios colaboravam activamente de acordo com as suas posses e procuravam cooperar e ajudar. Um exemplo é Antonino Dias Pinto de Castro que, em Julho de 1939, colocou às ordens da Associação, o jornal Noticias de Guimarães, de que era Director. A instituição agradeceu-lhe nomeando-o sócio protector. Mais tarde, em Dezembro de 1941, a Direcção propôs à Assembleia-geral a nomeação para sócios beneméritos de Manuel Alves de Oliveira, Óscar Avelino Pires e Manuel Fernandes de Oliveira e Castro, pelos mesmos motivos, o que foi aprovado consensualmente. Depois, em Março de 1954, nomeou o secretário da Direcção Laurentino Ribeiro Teixeira como sócio benemérito e o Dr. Manuel Francisco Pinto dos Santos como sócio honorário e sócio benemérito, como reconhecimento pelos serviços de direito, que prestou gratuitamente à Instituição.
Ainda durante este ano, alguns associados pediram a nomeação de uma comissão de inquérito para procederem a uma sindicância aos actos administrativos da instituição, mas tudo resultou infundado e a Direcção prosseguiu o seu trabalho.
Entretanto com o decorrer do tempo a sede foi-se degradando e tornou-se necessário fazer a sua manutenção. No final dos anos quarenta, a Direcção queixava-se da necessidade de voltar a fazer obras de conservação do tecto do Salão Nobre, que se encontrava em muito mau estado, podendo mesmo a vir a provocar um acidente. Por isso, era necessário realizar obras de grave envergadura. Os custos foram elevados, mas a Direcção de 1949 acentuou com veemência sua necessidade e a importância de que estas de revestiam para a manutenção do edifício.
Mas era também urgente modernizar a administração e o seu funcionamento. Por isso, em 1950 é instalado um telefone para serviço do dia-a-dia, mas, simultaneamente, tornava-se cada vez mais necessário alargar o espaço, que era já muito exíguo para as necessidades. Era preciso construir uma dependência anexa pois as suas instalações já tinham dificuldade em comportar o funcionamento diário e simultaneamente deixar espaço livre para o trabalho de carpintaria de execução dos caixões e armazenagem da madeira. Fez-se o projecto e o caderno de encargos, de autoria do Engenheiro António Pina, mas como durante o ano de 1950 não foi possível realiza-lo, a tarefa foi deixada à Direcção seguinte, que a materializou.
O serviço de assistência medica aos sócios, implementando no inicio dos anos quarenta tornou-se cada vez mais importante para a actividade e dinamização da associação, que reconhecendo isso, procurou incrementá-lo e aperfeiçoá-lo durante o ano de 1952, reorganizando todo o sistema de funcionamento.
Havia uma forte preocupação e uma grande necessidade de ampliar o rendimento do património associativo. Por isso, iniciaram-se diligências para obter um empréstimo hipotecário, com o objectivo de accionar a construção de moradias de rendas económicas destinadas a alugar aos associados. Pretendia-se construir habitações amplas e higiénicas de modo a tentar resolver o problema da habitação que assolava Guimarães desde a segunda metade do século XIX, altura em que se implementou um projecto de melhoramentos e higienização da cidade, que não foi complementado por uma construção suficiente, pois demoliram-se velhas habitações que não foram substituídas por outras de melhor qualidade, para alojar os seus habitantes. Procurando concretizar este projecto, a Direcção de 1953 tentou uma vez mais adquirir gratuitamente o terreno, mas não o conseguiu. Por isso, decidiu iniciar conversações directamente com o proprietário, por ser esta a forma mais económica de o obter, o que veio a resultar vantajoso para a Associação, como veremos adiante.
Desde 1952 que se sentia a necessidade de actualizar e remodelar os estatutos de forma a torná-los mais compatíveis com a lei, com a quotização e com os subsídios atribuídos. Era necessário adapta-los ao estabelecido pela lei vigente, mas apenas dois anos depois, em 1954, é que se fizeram os novos Estatutos da mutualidade, que foram remetidos ao Ministro das Corporações e Previdência Social para aprovação oficial. Foi em 29 de Abril de 1955 que os Estatutos da Associação de Socorros Mútuos Fúnebre Familiar Operaria Vimaranense foram finalmente aprovados pelo Ministro das Corporações e Previdência Social e autenticados pelo Subsecretario de Estado das Corporações e Previdência Social, em 29 de Abril de 1955. Por isso, na acta n.º 251, de 27 de Julho de 1956, a Direcção registou uma homenagem prestada à Direcção de 1954 subscritora dos novos Estatutos, que revogaram os anteriores datados de 23 de Outubro de 1915. Esta instituição seguia o mutualismo que se define como, «um sistema social de previdência baseado nos princípios do socorro mútuo. Pratica-se o socorro mútuo. Pratica-se o auxílio mútuo mediante a acumulação de quotas mensais, administradas segundo um esquema económico assente no capital e seu rendimento, auxilio que se traduz em subsídios diversos, particularidade específica que as distingue» referia o Engenheiro Gomes Alves na palestra que proferiu durante a comemoração das Bodas de Diamante da Associação Familiar Vimaranense, em 1983.
O rendimento dos funerais era em 1954, mais diminuto, talvez devido à baixa mortalidade que se vinha registando e, por isso, a Associação resolveu como contrapartida, tornar mais eficiente o serviço clínico prestado aos sócios.
Finalmente, a compra do terreno situado entre o caminho de Nossa Senhora da Conceição, à Atouguia, e a estrada nacional de Braga, para edificação das casas económicas destinada aos sócios foi conseguida, sendo o assunto exposto na reunião de Direcção de 25 de Abril de 1954. Entrou-se em negociações, em 31 de Outubro desse mesmo ano, com o proprietário Coronel Mário Cardoso, com a finalidade de permutar um terreno de 430m2, para tornar o terreno mais linear, o que foi acordado. Foi ainda nesse ano de 1954 que se fez o pedido de autorização para inicio da obra.
Entretanto o ministro das Corporações e Previdências Social, por despacho de 16 de Julho de 1956, deferiu o pedido da Associação para construir 12 moradias no terreno já adquirido, mas o inicio da obra no foi imediato, devido a problemas de ordem urbanística. Simultaneamente, ainda durante o ano de 1956, voltou a reorganizar-se a contabilidade associativa a fim de melhorar os serviços de secretariado da associação.
Para executar a obra era necessário alterar parcialmente o Anteplano de Urbanização da Cidade de Guimarães, no local onde se iriam construir as casas, isto é, na zona da Estrada Nacional Guimarães – Braga, no lugar da Conceição, à Atouguia. O despacho do subsecretario de Estado das Obras Públicas autorizando essa alteração foi publicado em 1 de Novembro de 1957. Esta transformação resolveu o problema que impedia a implementação dos novos projectos, mas levantou uma nova dificuldade, pois o valor do investimento autorizado era insuficiente para aplicar nas habitações, que deveriam passar a ter dois pisos devido à irregularidade do local de implantação, elevando assim o custo do projecto anterior. Para resolver esta questão a Direcção resolveu requerer ao Ministro das Corporações e Previdência Social o aumento do valor já autorizado, com vista a uma futura concretização do projecto.
Como era necessário a associação possuir um capelão, que lhe desse o indispensável apoio religioso, decidiu-se durante o ano de 1957, convidar o Monsenhor António de Araújo Costa, Arcipreste de Guimarães e Dom Prior da Colegiada, para assumir esse cargo, que aceite pelo referido sacerdote assumiu o apoio espiritual à acção da instituição.
Os sócios eram muitos e era preciso comemorar as datas mais importantes do organismo, envolvendo-os o mais possível. Assim, foi entre os dias 13 e 20 de Julho de 1958 que a Associação comemorou as suas Bodas de Ouro, celebrando desta forma os 50 anos de actividade em prol do bem-estar dos vimaranenses, com a realização de um programa solene. Dele constavam palestras de informação e divulgação feitas em vários pontos do concelho pelos clínicos da colectividade, distribuição de diplomas aos sócios com mais de 25 anos de filiação e homenagens a dirigentes e sócios fundadores. Foi realizada uma Sessão Solene presidida pelo delegado em Braga do Instituto Nacional do Trabalho, Dr. Valentim de Almada e Sousa, sendo orador o Reverendo Dr. José de Jesus Ribeiro.
Nesse mesmo ano se 1958, a Associação passou a conceder, com condições muito convenientes, os serviços de analises clínicas a associados e suas famílias, como oferta do Laboratório de analises de Guimarães. Talvez por isso, neste ano de 1958, os sócios admitidos ultrapassaram o milhar.
Mas a cidade pretendia continuar com as grandes obras e por isso, nos finais dos anos 50, previam-se grandes melhoramentos na zona de saída para Fafe. O edifício do Tribunal estava quase concluído e procurava-se agora reclassificar e modernizar a antiga Praça do Município. Por isso, «Prevendo o plano de expropriações, para a construção e arranjo da Praça de Mumadona e a demolição do prédio-sede da Mutualidade, a Câmara Municipal de Guimarães deliberou estabelecer as necessárias negociações para fixação da indemnização do prédio referido, e destinar um talhão do arruamento entre a Praceta Guilherme de Faria e a rua Dr. José Sampaio, para sua reconstrução.
Atendendo, porém, à necessidade imediata da demolição e a pedido do Exmo. Presidente da Câmara, Sr. Dr. José Maria de Castro Ferreira, fixamos no passado mês de Novembro as bases em que hão-se assentar as negociações para expropriação da sede e sua consequente reconstrução, podendo assegurar que as orientamos no melhor sentido», referia a Direcção no Relatório da Gerência de 1958.
Continuando as transformações, no ano seguinte, em 1959, as moradias em Fermentões estavam já em fase de acabamento e a Direcção pensava ainda realizar conversações para resolver o problema da expropriação do edifício sede e a sua reedificação noutro local. Com o rápido avanço das obras de construção do largo Mumadona – nesta altura já bastante adiantadas, admitia-se que a Câmara em breve se voltaria a interessar no assunto, mas o projecto acabou por ser modificado, não sendo necessário tomar as medidas drásticas que se previam.
Nesse ano, foi também constituída a comissão de obras do Bairro de Fraternidade, por deliberação da Direcção de 15 de Janeiro de 1959. Eram seus membros, Joaquim Garcia, Laurentino Ribeiro Teixeira e Manuel Gomes de Oliveira.
A construção das moradias foi avançando e, em 1960 já existia em Atouguia uma construção de três blocos de moradias, que foram arrendadas a doze sócios, imediatamente após a conclusão das obras. Ocupado desde Abril, o imóvel assegurou à Instituição um razoável rendimento anual. Como medida preventiva para fazer face às suas despesas de conservação, constituiu-se o Fundo de Conservação de Propriedades, para o qual se retirou uma percentagem de 10% do seu rendimento e o fundo de Amortização de Propriedades, com uma percentagem de 50% desse rendimento.
Em 1961 procurou recomeçar-se a construção com a edificação de novas moradias no Bairro da Fraternidade. A edificação, que constava de dez novas moradias, foi procedida por um projecto de implantação aprovado pela Câmara, mas estas não chegaram a ser construídas por não existir ainda disponibilidades de fundos, embora a Câmara Municipal já tivesse aprovado a sua implantação na Bouça do Pinheiro, em Fermentões, de acordo com a informação registada no ofício nº 1039/S, de 2 de Agosto de 1961. As obras estagnaram e recomeçaram novamente em 1965, esperando que ficassem concluídas no ano seguinte, o que realmente sucedeu. Face ao andamento das obras, a Direcção regozijava-se, pois apesar do baixo custo das rendas cobradas a associação planeava conseguir obter um rendimento que lhe permitiria satisfazer os seus encargos sociais. E ainda atenuar a crise que se verificava no sector habitacional do Concelho.
Em 1968, decidiu-se voltar a reformar os Estatutos da Mutualidade, uma vez que já se encontravam novamente desactualizados, e paralelamente era necessário actualizar as quotas e os subsídios aos associados. Mas, apesar de se lutar por isso, esta medida
também não conseguiu ser concretizada pela Direcção seguinte, embora o empenho usado fosse muito. Foi em 1970 que o relatório de actividades da gerência referia que «Após canseiroso labor, foi, por fim, aprovada superiormente a reforma dos estatutos», cujos trabalhos tinham sido iniciados em 1968.
Ainda durante o ano de 1968, ao ser visitada pelo sub-inspector da Inspecção da Providencia Social, Dr. Domingos do Nascimento Ochôa, este mostrou que ficou «agradavelmente impressionado com a boa ordem encontrada nos serviços administrativos», o que agradou à Direcção vigente.
A partir de 1969 começou a descer a admissão de sócios que ate ai tinha sido bastante regular. A saída de jovens para outros países, emigrando à procura de melhores condições de vida, foi o principal motivo que Direcção encontrou para justificar esta anomalia ate aí pouco vulgar.
Além disso, satisfazendo uma petição já algum tempo feita pela associação, a Câmara Municipal tinha já deliberado electrificar os terrenos que circundavam o Bairro da Fraternidade o que a Firma Bernardino Jordão, Filhos e Cª Lda. se propôs executar até Março desse ano de 1970. Face ao saldo positivo das receitas e ao apoio manifestado em Assembleia-geral, a Direcção decidiu ainda adquirir um carro funerário, o que não se concretizou não só devido à sua compra ter de seguir nova orientação, mas também pelo seu elevado custo. Por isso, foi adquirida uma furgoneta destinada ao serviço de transporte de materiais e artigos funerários, que era considerada muito mais útil.
Em 1972, Assembleia-geral Extraordinária de 12 de Novembro de aprovou a nova reforma Estatutária, que visava estabelecer novos subsídios e encargos sociais passando a quota para a quantia de 5$00 mensais. Durante esse ano fizeram-se ainda obras na habitação do funcionário da secção funerária, que estava em ruína na sede social e também no novo Bairro da Fraternidade.
Com o passar do tempo os fundos começaram a escassear e por isso, não foi possível continuar a fazer obras na sede da associação, nem actualizar amigavelmente as rendas do bairro. Isto levou a associação requerer oficialmente a avaliação das mesmas e conduziu a uma pequena melhoria no seu rendimento. Mas foi necessário continuar as obras no Bairro da Fraternidade não só porque os telhados das casas já não estavam em bom estado e os moradores manifestavam constantemente o seu desagrado, mas também porque Junta Autónoma das Estradas avisou que os esgotos não deviam escorrer para a estrada e o saneamento devia de ser melhorado. Para acudir a todas estas necessidades não foi possível fazer obras de manutenção no edifício o que levou ao desabamento do tecto no Salão Nobre, sendo por isso necessário realizar melhoramentos que não estavam previsto.
Em 1975, embora houvesse necessidade de se continuar com as obras de reparação e manutenção da sede, estas foram adiadas ate mais tarde. Houve um aumento dos salários do pessoal, devido à lei dos ordenados mínimos, e foi adquirido material novo para a secção funerária, o que levou a que a Direcção considerasse que, embora os resultados não satisfizessem totalmente, também não foram desanimadores. De acordo com a nova mudança política que ocorreu com a Revolução de 25 de Abril de 1974 e consequente transformação da cidade, tornou-se necessário remodelar e recomeçar e actualizar novamente os Estatutos. Para além disso, notava-se cada vez mais um equilíbrio entre a receita e a despesa, tornava-se fundamental a actualização das quotas, a tabela de subsídios e a contribuição para a assistência médica, o que conduziu a uma necessidade de se actualizar os Estatutos, que foram aprovados pela Assembleia-geral Extraordinária de 22 de Agosto de 1976.
As obras no edifício sede continuaram em 1977 com a reparação do telhado garagem, pintura exterior da frontaria, portas e janelas, e colocação de estores a nível do primeiro andar, deixando-se o interior para mais tarde. A instituição resolveu apoiar e associar-se ao Secretariado Nacional das Associações de Socorros Mútuos, criado em Coimbra, com o objectivo de defender os interesses das Associações Mutualistas. O relatório da gerência de 1977 concluiu com a seguinte mensagem: «ao dar por concluído este relatório, não queremos deixar de levar ao conhecimento dos associados que por Decreto-Lei nº 636/76 de 28 de Julho foram revogadas diversas disposições estatutárias das associações mutualistas, de entre as quais é de salientar a que regulamenta o acto eleitoral, pelo que na Assembleia Eleitoral de 11 de Dezembro, foram eleitos os novos membros para o biénio de 1978/79, período previsto na referida lei».
A Associação continuou a manutenção dos seus bens, principalmente das casas que possuía perto da Atouguia. Foi no inicio do ano de 1978 que uma moradia sofreu um incêndio, tendo a Associação procedido à sua reconstrução. Paralelamente foram feitas pequenas reparações de manutenção nas outras habitações, fazendo com que o arranjo interior da sede fosse novamente adiado. Pensou-se ainda adquirir uma nova viatura e fazer a respectiva adaptação para serviço funerário, mas não foi ainda possível concretizar a aquisição durante a Direcção vigente. No relatório de actividades de 1978, a Direcção congratulava-se com a preferência dos sócios pelos seus serviços fúnebres, uma vez que na década anterior, esta opção tinha diminuído, possivelmente, como já foi referido, devido à forte emigração que se registou no país.
A associação procurou desde sempre defender o seu património e por isso teve que arcar com uma acção judicial contra uma deliberação da câmara municipal concedendo autorização para que não acontecesse qualquer acidente. Foi entretanto criado um fundo próprio para a sua recuperação, pois a manutenção do património era muito dispendiosa e permanente.
Em 1980, a reparação da sede ainda não estava completa devido a problemas económicos, mas foi continuada com reforço das paredes laterais e do pavimento do salão. Havia ainda a necessidade de continuar a reforma estatutária para melhoria dos subsídios, que ainda não estava encerrada e que foi, entretanto, aprovada por unanimidade em Assembleia-Geral Extraordinária de 26 de Outubro. A possibilidade de receituário médico aos sócios também ainda não estava resolvida por não existir o despacho favorável do Centro Regional de Segurança Social de Braga, mas a Direcção procurava ansiosamente resolver o problema, pois já prestava assistência médica há dezenas de anos.
O armador que prestava serviço na Associação saiu nessa altura e houve uma certa dificuldade em o substituir, pois a casa onde vivia e que pertencia à associação, encontrava-se inabitável, prejudicando deste modo acção da Associação, embora não tivesse qualquer interferência na requisição de funerais.
No segundo ano desta Direcção e seu último ano de mandato, em 1981, prosseguiram as obras de conservação, agora no interior da sede, abrangendo a zona de entrada e a secretaria. Foram também apetrechados com um equipamento mais moderno, um consultório médico e a secretaria da instituição. Remodelou-se a casa do armador e conseguiu-se arranjar um substituto para a secção funerária, mas as obras na secção fúnebre foram continuadas mais tarde. A possibilidade de receituário médico e elementos de diagnóstico aos sócios foram resolvidos com a cooperação dos Serviços Médico-Sociais da Previdência. Em 1983, procedeu-se a uma pequena reestruturação dos Estatutos a que se sucedeu a reforma devido à obrigação exigida pelo artigo 94º, nº 2 do Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social.
Foi também em 1983, que a Associação comemorou solenemente as suas Bodas de Diamante. Esta data foi comemorada com uma missa de Acção de Graças e simultaneamente de sufrágio por alma dos sócios falecidos, houve distribuição de medalhas aos sócios com mais de cinquenta anos de efectividade e foi ainda proferida uma palestra sobre o mutualismo pelo Eng. José Maria Gomes Alves.
A Associação foi alargando a sua esfera de influência e ampliou a sua participação em actividades externas e de colaboração com outras instituições. Participou no IV Congresso Nacional de Mutualismo, em Lisboa, em Dezembro de 1984 e foi eleita para ocupar o cargo de 1º secretario da Assembleia-Geral da União das Mutualidades Portuguesas (IPSS)1. Mas vê-se a braços com um novo problema: as vinte e duas moradias de construção recente (1960-1965), tinha um rendimento muito diminuto e as quotas dos sócios eram demasiado baixas para manter a actividade normal. Por isso, a Direcção pretendia aumentar as rendas das casas, mas isso não foi possível. É nesse ano que se decide a mudança da sua denominação, excluindo as palavras fúnebres e operária. A Associação de Socorros Mútuos Fúnebre Familiar Operaria Vimaranense passou, então, a designar-se Associação Familiar Vimaranense (Socorros Mútuos). É durante este ano de 1984 que a Associação pretende ver aumentadas as rendas das casas para uma quantia razoável (as demasiado baixas para 300%), que se equilibrasse a despesa que tinha com elas, mas isso não foi possível devido ao congelamento das rendas por parte do Estado. O relatório de actividades da Direcção de 1985 referia mesmo que «É uma das maiores e das mais flagrantes injustiças esta do congelamento das rendas de casa, em especial, nas que incidem sobre o património das Instituições de Solidariedade Social […]».
A acta da Direcção nº 339 de 24 de Novembro de 1985 referia a alteração do nome da Associação e informava que os presentes estatutos reformavam os aprovados por alvará do Ministério das Corporações e Previdência Social de 29 de Outubro de 1955, publicados no Diário da Republica, 3ª serie, nº 151, 4 de Julho de 1986.
A nível do apoio aos sócios era necessário e urgente melhorar o serviço fúnebre adquirindo finalmente um novo carro funerário, mais seguro e confortável, justificando que o existente, por ser muito antigo e andar constantemente avariado, exigia reparações muito dispendiosas. Por isso, decidiu-se adquirir um novo carro que foi devidamente adaptado ao serviço funerário e entrou ao serviço em finais de 1986, inícios de 1987.
Continuou a haver uma grande preocupação com o melhoramento da assistência aos seus sócios, tendo por isso, sido feitas obras, para que passasse a dispor de um posto de enfermagem, para além dos já habituais serviços de ginecologia, vigilância da tensão arterial, injecções, etc. Possuindo um maior número de valências, tornava-se indispensável alargar o seu espaço e moderniza-lo de acordo com as novas necessidades. Por isso, em 1986, a Associação decidiu construir no terreno anexo à sua sede um imóvel, que foi licenciado pela Câmara Municipal de Guimarães no ano seguinte, em Maio de 1987. Mais uma vez a Direcção de 1986 voltou a queixar-se amargamente da ausência de lucro das casas que possuía alugadas perto de Atouguia, referindo: «Ruiu a esperança criada sobre as rendas das 22 moradias da associação. Os aumentos verificados, não passam de mero fingimento. São 22 moradias bem situadas que poderiam render alguns centos de contos e nem sequer 30 contos rendem, mensalmente.
Contudo, pedidos para obras acontecem, bem como, ainda temos que daquela «insignificância» pagar contribuição e seguros. Paciência…»
Mas continuava-se a tentar resolver o problema, sem perder a esperança.
A instituição precisava de se dar a conhecer à comunidade e por isso aproveitou a proximidade do seu octogésimo aniversário para editar uma publicação que registava o seu percurso institucional desde a sua criação, em 1908, referindo passos mais importantes da sua vida e obra, a fim de divulgar junto dos sócios e instituições de cultura. Intitulava-se «Associação Familiar Vimaranense: Socorros Mútuos» e transcrevia alguma das partes mais importantes das actas da instituição. Paralelamente também foram publicados os Estatutos que se encontravam já em vigor e foram distribuídos pelos sócios.
A procura do serviço médico que prestava era cada vez maior e neste ano abriu aos sócios um novo serviço de empréstimo gratuito de material ortopédico, com o objectivo de os servir melhor.
A Associação, que já há alguns anos pertencia à União das Mutualidades Portuguesas, foi eleita nesse ano de 1987, para assumir o cargo de Presidente da Assembleia-Geral, sendo desempenhado pelo Presidente da Associação, Sr. Laurentino Ribeiro Teixeira.
A acta da Direcção, nº 343, de 28 de Dezembro de 1986, referia que se iria tentar fazer uma construção no terreno da associação, e na de 10 de Junho de 1987, mencionava uma possível construção no terreno anexo à sede, anunciando que o projecto já se encontrava aprovado pela Câmara Municipal e que se procurava, entretanto, aceder a um empréstimo. Esta proposta foi submetida à aprovação da Assembleia-geral, sendo aprovada por unanimidade e ate aclamação.
Foi em 1988, na Assembleia-geral convocada para resolver o problema do Bairro da Fraternidade, marcada para o 1 de Janeiro desse ano, e nela forma discutidas as propostas da Direcção para alienação das moradias do Bairro da Fraternidade aos interessados, neste caso os seus moradores. Paralelamente, foi comunicado o inicio das obras no terreno anexo à sede, à Rua de Serpa Pinto. A Direcção procurava, assim libertar-se dos pesados encargos que tinha, e aplicar o rendimento obtido na ampliação da sede, cuja construção se tinha agora iniciado.
O carinho e o sentimento de protecção para com os sócios eram uma preocupação constante da Instituição. Como consequência, a Direcção registou em acta nº 344, de 22 de Março de 1987, a decisão de homenagear as sócias Violante Rosa e Albertina da Costa Pacheco, por mais de 70 anos de fidelidade.
No ano seguinte, foi homenageada D. Violante Rosa, sócia-efectiva nº 1530, admitida no dia 1 de Fevereiro de 1914. Nasceu em 15 de Setembro de 1890 e pagou 4355$46 nos 75 anos de sócia, começando por pagar uma quota mensal de $02. A cerimónia constou de uma missa de acção de graças realizada no Santuário da Penha e um almoço de confraternização com todos os seus filhos.
Como Instituição mutualista a associação organizou, em Dezembro de 1991 o III Encontro Nacional de Dirigentes Mutualistas, que decorreu na Sociedade Martins Sarmento e Paço dos Duques, com o objectivo de reunir as mutualidades e debaterem em conjunto os seus problemas e interesses mais prementes. Esteve presente o Ministro do Emprego e Segurança Social, Dr. Silva Peneda e o Presente da União das Mutualidades Portuguesas Sr. Vítor Milícias, que foi um dos conferencistas.1
Mas as obras de alargamento do edifício que estavam a decorrer foram suspensas devido «atitudes provocatórias e destruidoras de um vizinho, não obstante todo o projecto da referida obra se encontrar superiormente aprovado.
As atitudes que até então tomou, ameaçando, inclusive, os próprios trabalhadores, são do conhecimento da Justiça, esperando-se que, em breve e por isso, a mesma seja retomada e os prejuízos causados sejam contabilizados e cobrados», referia o Relatório de Actividades de 1990. Este problema só foi resolvido alguns anos mais tarde, em 1992, a favor da instituição, prosseguindo as obras, que terminaram no ano seguinte.
Durante este mesmo ano, na madrugada do dia 2 de Dezembro, a sede foi assaltada, tendo sido roubada avultada quantia, danificados dois cofres e feitos alguns estragos, mas apesar disso tudo se recompôs.
Entretanto houve novamente necessidade de se voltar a remodelar os estatutos, com vista a regulamentá-los face ao Código das Associações Mutualistas e assim, adaptar-se às novas realidades. Esta remodelação incidiu particularmente nos fundos do funeral, doença, reserva geral e administração.
Em 1993, a Associação fez, uma vez mais, obras de restauro no antigo edifício sede, então, em muitas más condições e com fortes infiltrações de água. Pintou-se, electrificou-se e reparou-se a garagem, mas agora com uma esperança renovada uma vez que o novo edifício foi inaugurado no dia 8 de Dezembro desse ano, procedendo à sua bênção o Dom Prior da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, Monsenhor José Maria Lima de Carvalho. Aí ficaram instalados os consultórios médicos e de enfermagem, os serviços administrativos, a secretaria, a tesouraria e as informações, tendo sido adquirido material informático, para modernização dos respectivos serviços. Neste ano em que se comemoravam quase 60 anos da inauguração da antiga sede e em que foi inaugurado o novo edifício, faleceu, em Setembro, com 103 anos de idade, D. Violanta, a mais antiga sócia efectiva – que acompanhou a Instituição durante 78 anos -, e a mais antiga mutualista portuguesa.
Desde 1993, que se procurava instalar na associação uma farmácia mutualista – o que não era viável por não ser autorizada -, e um estomatologista, o que foi conseguido no ano de 1994, com grande regozijo dos sócios.
Em 1998, foi legalizada e licenciada a secção fúnebre, que apesar de isenta das contribuições e de encargos inerentes, se licenciou agora de acordo com as normas do Ministério das Finanças.
Mais uma vez se sentiu a necessidade de adquirir um novo carro funerário, a fim de melhorar os serviços prestados aos sócios e substituiu-se a velha carrinha, com quase 30 anos de serviço, por outra moderna e confortável.
Ao longo dos anos, a Associação continuou a lutar por fornecer aos sócios bons serviços clínicos e de enfermagem, a festejar anualmente o seu aniversário distribuindo pelos sócios medalhas de 25 e 50 anos de efectivação e manter uma secção funerária o mais actualizada possível.
A sede da Associação Familiar Vimaranense era agora um edifício antigo, com quase setenta anos, o que requeria uma manutenção constante e atenta, geralmente bastante dispendiosa. Por isso, a Direcção de 2002 queixava-se que ainda não lhe tinha sido possível fazer obras na sede, e que estas teriam de esperar por uma melhor oportunidade, o que se conseguiu no ano seguinte, embora fosse necessário continuá-las.
Nesse ano de 2003, os serviços administrativos foram informatizados a fim de melhorar o serviço público, mas a Direcção lamentava-se amargamente da luta tenaz que tinha de manter contra as tentativas de ilegalização da secção funerária, o que causava sérias dificuldades ao seu trabalho funerário.
A Associação continuou a apostar fortemente na assistência médica aos sócios e no ano de 2003, a Direcção congratulava este departamento, referindo no relatório de actividades que a procura de consultas «atingiu valores recorde, excedendo os quinze milhares de consultas médicas».
A Associação era uma séria concorrente ao serviço funerário vimaranense e por isso a Direcção de 2004 queixava-se que tinha sido injustamente sujeita a processos judiciais movidos pela Inspecção-geral das Actividades Económicas (IGAP), com aproveitamento de outros, com interesses no sector funerário, congratulando-se com a absolvição total das aquisições e coimas de que fora alvo.
A zona nobre do edifício era antiga e talvez por isso, em 2005, as instalações do edifício sede, ao nível do rés-do-chão foram atacadas por uma praga de térmitas que atingiram com violência as estruturas de madeira das paredes, tectos e soalho, deixando-o em risco de ruir. Afectou também o precioso Arquivo Histórico da Instituição, com o desaparecimento de muitos documentos. A infestação foi debelada com muita dificuldade e após esta calamidade, foi necessário voltar a fazer obras bastante profundas no rés-do-chão do edifício sede, cujas paredes foram profundamente infestadas pelas térmitas. De notar que as térmitas (Cryptotermes brevis) são uns organismos pequenos, com asas em adultos, que vivem debaixo da terra e infestam madeira seca, principalmente as madeiras estruturais e por isso, danificaram fortemente os soalhos e madeiras do edifício da associação, sendo necessário fazer obras urgentes, que foram concluídas em 2006.
Um outro problema da instituição, que era urgente resolver era o pagamento das quotas, que era sempre difícil devido às frequentes mudanças de endereço dos sócios. A Associação fez um grande esforço para as conseguir arrecadar e por isso, decidiu arranjar um cobrador a fim de as receber, o que não foi fácil. Só depois de muita dificuldade de o seleccionar, o assunto foi resolvido, com a contratação do referido cobrador.
Para além das actividades já habituais, como a clínica e enfermagem e o serviço fúnebre, foram concretizados protocolos com médicos especialistas, com um advogado,
estabelecimentos de ópticas e uma agência de viagens, com grande proveito para os sócios.
Finalmente, em 2008 festejou-se solenemente, o Centenário da Associação Familiar Vimaranense com varias actividades, algumas já habituais. É o caso da celebração da Missa em memória dos associados falecidos e a entrega de medalhas comemorativas aos associados com mais de cinquenta anos de sócios efectivos. Para além disso, ainda foi organizada uma Sessão Solene no Salão Nobre da Associação, seguida de uma exposição documental sobre a instituição, organizada em colaboração com a Muralha – Associação de Guimarães para a Defesa do Património e inaugurada na sala de exposições temporárias da Sociedade Martins de Sarmento, pela Dr.ª Maria de Belém Roseira. Paralelamente houve um programa de confraternização com a apresentação de uma sessão de Teatro «Tragédia: uma tragédia», organizada pela Oficina, um passeio a Fátima, um espectáculo de variedades e outros de fados. O programa encerrou com uma conferência proferida pelo Padre Lino Maia, uma missa presidida pelo Arcebispo Primaz de Braga, D. Jorge Ortiga e um jantar de confraternização.
Há cem anos que a Associação Familiar Vimaranense segue um trajecto mutualista, de entreajuda, solidariedade e protecção social aos sócios, sem fins lucrativos, que se tem vindo a modernizar de forma a responder aos interesses da sociedade e enfrenta agora o futuro com confiança.